Marina Saleme - O Céu que nos Protege

A prática de criação e apagamento é comum na sua prática criativa: por vezes, ela passa tinta em uma tela e começa tudo de novo

Num dia de tormenta repentina, enquanto quase todos os visitantes de um parque em Londres empacotavam rapidamente suas coisas para sair e se abrigar, a paulistana Marina Saleme decidiu ficar — e fotografar. Ela sabia que a gigante nuvem cinzenta que se aproximava era a paisagem perfeita para uma futura intervenção. Anos depois, a imagem virou ponto de partida para uma das séries apresentadas na mostra O Céu que Nos Protege, com inauguração prometida para quinta (18), na Galeria Luisa Strina. Nas mãos da artista, o simples retrato do cenário virou uma pintura repleta de sentimentos e atmosferas. Montados num processo que dá um efeito reticulado, os trabalhos revelam duas faces de acordo com o ângulo de observação. De um lado, mostram só a paisagem fotografada; do outro, a mesma imagem sobreposta pela pintura. Técnica já amadurecida ao longo da carreira de Marina, o uso das várias demãos de tinta sobre uma mesma tela foi a maneira encontrada para abordar questões aflitivas como a passagem do tempo e a inconstância da vida. Não é incomum que a artista dê uma de suas peças por terminada ao fim de um dia e, logo na manhã seguinte, comece a criar tudo novamente. Em outra série, intitulada As Verdades, a imagem de duas traves de futebol presas à areia da praia ganha paredes prateadas, “construídas” pelos pincéis. Ali, ela também explora as possibilidades da pintura sobre a foto e brinca com a nossa percepção de realidade e ilusão.


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