um pouco dos artistas da 32ª Bienal de Arte de SP

Detalhe da instalação Product Recall: An Index of Innovation [Recall de produtos: um índice da inovação], 2014-2015

MARYAM JAFRI
1972, KARACHI, PAQUISTÃO. VIVE EM NOVA YORK, EUA, E COPENHAGUE, DINAMARCA

Maryam Jafri trabalha com instalações, filmes, fotografias, textos e arquivos em projetos que utilizam o potencial crítico da arte para evidenciar ou investigar arqueologias do conhecimento, a política de imagens e a produção de espaços. Fundamentadas em pesquisas e em materiais documentais, suas obras abordam os modos de produção e de circulação de mercadorias na economia capitalista globalizada e a dimensão psicológica da cultura de consumo que esse tipo de economia provoca. Em Product Recall: An Index of Innovation [Recall de produtos: um índice da inovação] (2014-2015), Jafri investiga coleções privadas ligadas à indústria de alimentos e à publicidade. Seu interesse concentra- se em produtos que foram considerados inovadores nos Estados Unidos a partir dos anos 1970, mas que, por variadas razões, acabaram recolhidos do mercado. A esses objetos e suas imagens publicitárias a artista justapõe legendas de caráter informativo – estratégia museográfica de apresentação de artefatos e também adotada pela linguagem de apropriação da arte. A montagem limpa contrasta com o apelo visual comumente associado ao design e à publicidade desses produtos, o que faz com que tais estratégias de manipulação, produção de emoções e de desejos se neutralizem, possibilitando um distanciamento crítico.

Vista da instalação Un Autre livre rouge [Um outro livro vermelho], 1973-1974

LOURDES CASTRO

1930, FUNCHAL, PORTUGAL. VIVE NA ILHA DA MADEIRA, PORTUGAL

Desde a década de 1950, Lourdes Castro se dedica à criação de livros de artista, objetos, desenhos, serigrafias, vídeos e performances baseados na convivência com elementos de seu cotidiano, em especial paisagens e plantas que cultiva em sua casa- ateliê na Ilha da Madeira, Portugal. Paralelamente, o interesse por formas de desmaterialização do objeto artístico levou-a à pesquisa das sombras, tema central de sua produção. Na série Sombras à volta de um centro (1980-1987), a artista pousa uma jarra com flores sobre o papel, debaixo de um foco de luz; a base da jarra é o centro das sombras que Castro contorna minuciosamente com lápis de cera, de cor ou nanquim. Esse procedimento simples dá origem a um herbário de rastros topográficos com cores que enfatizam áreas diferentes em cada peça. Outra estratégia adotada por ela é a coleta de materiais para constituir uma espécie de inventário em torno de um tema de seu interesse. Un Autre livre rouge [Um outro livro vermelho], iniciado em 1973, em parceria com Manuel Zimbro, consiste na reunião e catalogação de objetos extraídos de contextos culturais diversos, mas unidos pela característica da predominância da cor vermelha. O resultado nos põe em contato com o movimento errático no imaginário contemporâneo dessa cor carregada de simbolismos.


Vista da instalação e performance Saloio, 2011

CARLA FILIPE
1973, AVEIRO, PORTUGAL. VIVE EM PORTO, PORTUGAL

A obra de Carla Filipe é composta a partir da apropriação de objetos e documentos, ou construída através da relação permeável entre objetos de arte, cultura popular e ativismo. Em sua pesquisa, a artista utiliza-se de materiais e elementos, como bandeiras, cartazes, jornais e artefatos ferroviários, assim como faz intervenções em lugares abandonados ou em desuso. Em Migração, exclusão e resistência(2016), Filipe partiu de uma pesquisa iniciada em 2006, que propunha a construção de hortas e jardins em ambientes urbanos, instaurando o uso coletivo do espaço privado ou a apropriação de espaços públicos destinados a outros fins. Ao articular modos distintos de vida, ela questiona a ideia de propriedade e amplia a noção de sobrevivência. Essa obra nos conta sobre espécies em vias de extinção, vegetais comestíveis pouco conhecidos e sobre plantas que surgem em locais inesperados. Nessa proposta, Filipe cria condições para se pensar sobre forças espontâneas de resistência que funcionam como células autogeridas, e que representam reações aos ditames capitalistas da vida urbana, derivados de iniciativas de caráter hierárquico e privado.

Jump Spread Your Legs [Passo largo], 2013

MISHEK MASAMVU
1980, MUTARE, ZIMBÁBUE. VIVE EM HARARE, ZIMBÁBUE

Misheck Masamvu é conhecido por suas pinturas provocadoras, que são consideradas reflexões e comentários sobre a paisagem sociopolítica pós- independência do Zimbábue e o lugar desse país no imaginário mundial. Embora tenha nascido no início do processo de independência do Império Britânico, as cenas de Masamvu visualizam um mundo caótico similar ao retratado no romance "The House of Hunger" (1978), do falecido escritor zimbabuense Dambudzo Marechera – o artista descreveu sua literatura como um “tratamento de choque literário”. O mesmo pode ser dito das pinturas de Masamvu: são declarações de um estado político estagnado e fraturado. Ainda que sedutoras em seu tratamento de cores e formas, podem ser lidas como uma forma de combate. A guerra aqui é tanto política como espiritual, feita para redimir a apatia humana diante do sofrimento e da dor, condições que levam à exaustão espiritual. Comissionadas pela 32a Bienal,Midnight [Meia-noite] (2016) e Spiritual Host [Anfitrião espiritual] (2016) foram criadas em um contexto de transformação política no Zimbábue, onde protestos recentes contra o governo mostram um povo exigindo uma nova realidade.




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