Marilá Dardot - Guerra do Tempo - Chácara Lane

Chácara Lane é data do final do século XIX

Construções antigas e tombadas, a Casa Modernista, a Capela do Morumbi e o Solar da Marquesa têm em comum a administração feita pelo Museu da Cidade, rede da prefeitura. No último sábado (30/1), a Chácara Lane também passou a fazer parte do time de treze casas históricas que oferecem larga programação de exposições. Inaugura o palacete amarelado a mostra Guerra do Tempo, da mineira Marilá Dardot. São 31 obras que unem a literatura às artes plásticas para discutir memória e esquecimento, entre outros temas. O curador, Douglas de Freitas, aproveitou para incluir na seleção o vídeo Quanto É? O que Nos Separa?, resultado de uma enquete feita pela artista na Praça Mauá, no Rio de Janeiro. O trabalho mostra a disparidade econômica de brasileiros a partir de perguntas como “Quanto você tem no bolso?”. Até 17/4/2016.

Tertúlia - Galeria Fortes Vilaça

Uma reunião familiar ou de amigos pode receber o nome de Tertúlia. Esse é também o título da mostra em cartaz na Galeria Fortes Vilaça, cuja trajetória de quinze anos angariou um prestigiado time de artistas, potencializado por muitas profissionais femininas. Dezessete mulheres representadas atualmente pelo espaço, ou que já estiveram fortemente ligadas à galeria, têm seus trabalhos expostos a partir de uma seleção do acervo. Não estranhe a falta de relação entre as diferentes peças. A ideia era priorizar obras emblemáticas de cada uma das autoras. O resultado é uma mostra nostálgica — em clima de celebração. Representa a carioca Adriana Varejão, por exemplo, o quadro Big Polvo Color Wheel I. Lá estão as suas Tintas Polvo, paleta de 33 nuances criadas a partir dos diferentes tons de pele do povo brasileiro. O trabalho surgiu de uma pesquisa de mais de quinze anos que questiona o censo oficial do IBGE, no qual a população se divide entre apenas cinco cores. Da fotógrafa Rosângela Rennó, Tropical II retrata uma mata em preto e branco na qual há a interferência de uma mancha fantasmagórica. Criado dentro do laboratório de revelação por meio da exposição do negativo a uma luz forte, o efeito demonstra a intimidade da artista com a manipulação do suporte. Há também alguns vídeos, como dois bem-humorados registros de performances de Sara Ramo. Completam a mostra trabalhos de Janaina Tschäpe, Leda Catunda, Beatriz Milhazes, Jac Leirner e Tamar Guimarães, entre outras.


Marina Saleme - O Céu que nos Protege

A prática de criação e apagamento é comum na sua prática criativa: por vezes, ela passa tinta em uma tela e começa tudo de novo

Num dia de tormenta repentina, enquanto quase todos os visitantes de um parque em Londres empacotavam rapidamente suas coisas para sair e se abrigar, a paulistana Marina Saleme decidiu ficar — e fotografar. Ela sabia que a gigante nuvem cinzenta que se aproximava era a paisagem perfeita para uma futura intervenção. Anos depois, a imagem virou ponto de partida para uma das séries apresentadas na mostra O Céu que Nos Protege, com inauguração prometida para quinta (18), na Galeria Luisa Strina. Nas mãos da artista, o simples retrato do cenário virou uma pintura repleta de sentimentos e atmosferas. Montados num processo que dá um efeito reticulado, os trabalhos revelam duas faces de acordo com o ângulo de observação. De um lado, mostram só a paisagem fotografada; do outro, a mesma imagem sobreposta pela pintura. Técnica já amadurecida ao longo da carreira de Marina, o uso das várias demãos de tinta sobre uma mesma tela foi a maneira encontrada para abordar questões aflitivas como a passagem do tempo e a inconstância da vida. Não é incomum que a artista dê uma de suas peças por terminada ao fim de um dia e, logo na manhã seguinte, comece a criar tudo novamente. Em outra série, intitulada As Verdades, a imagem de duas traves de futebol presas à areia da praia ganha paredes prateadas, “construídas” pelos pincéis. Ali, ela também explora as possibilidades da pintura sobre a foto e brinca com a nossa percepção de realidade e ilusão.


Exposição no centro Cultural dos Correios em São Paulo

Imagine ter 1 500 obras de arte contemporânea brasileira em sua casa. Sérgio Carvalho tem. E sabe o que é o melhor? Ele não é nada ciumento. Duzentas peças do acervo desse advogado e músico brasiliense estão expostas ao público no Centro Cultural Correios. Vértice é integrada por instalações de artistas como Marcelo Moscheta e Eder Santos, fotos de Pedro David e Rodrigo Braga, registros de performances de Berna Reale e Amanda Melo e esculturas como Horizonte Infinito, de Flávio Cerqueira, entre outros diversos destaques da produção atual. As peças foram selecionadas pelas curadoras Marília Panitz, Marisa Mokarzel e Polyanna Morgana e divididas em três eixos principais. Relatos reúne obras que retratam a realidade, Construções, as invenções dos artistas, e Assombros, os sonhos. A divisão temática ajuda a compor três perspectivas diferentes da mesma coleção e convida o visitante a construir uma quarta visão: a sua, em meio ao horizonte infinito de obras. Até 27/3/2016

Harun Farocki no Paço das Artes


Em cartaz no Paço das Artes, Programando o Visível conta com seis vídeos do cineasta alemão Harun Farocki (1944-2014). Trata-se da última mostra da instituição antes da mudança de local. Ela foi despejada para que o prédio comece a abrigar a fábrica de vacina contra a dengue do Instituto Butantan. Qual será a próxima sede do museu? Ninguém sabe. Vale passar por lá para se despedir, ao menos provisoriamente, e conferir as quatro videoinstalações da série Paralelo I-IV. Ali, o artista toma jogos de computador como ponto de partida para refletir sobre a natureza das imagens no século XXI. São exibidos desde games produzidos nos anos 80 — quando a computação gráfica utilizava desenhos sem profundidade — até aqueles mais atuais, em que o espaço virtual se assemelha ao universo real. O visitante é posto no papel de protagonista da brincadeira para pensar sobre a mudança da percepção de mundo do homem contemporâneo com o desenvolvimento das realidades virtuais. Ele assiste aos personagens enfrentando obstáculos como barreiras invisíveis, erros de programação e falhas de continuidade, problematizados por narrações tocadas em fones de ouvido.



que venha Bienal de arte 2016...



A noção de "incerteza" é o eixo central da 32ª Bienal, a fim de refletir sobre atuais condições da vida em tempos de mudança contínua

Sob o título Incerteza viva [Live Uncertainty], a 32a Bienal de São Paulo busca refletir sobre as atuais condições da vida e as estratégias oferecidas pela arte contemporânea para acolher ou habitar incertezas. A exposição acontece de 10 de setembro a 11 de dezembro de 2016 no Pavilhão Ciccillo Matarazzo, reunindo aproximadamente 90 artistas e coletivos, 54 deles agora anunciados.
Incerteza viva
Sob o título Incerteza viva, a 32a Bienal de São Paulo tem como eixo central a noção de incerteza a fim de refletir sobre atuais condições da vida em tempos de mudança contínua e sobre as estratégias oferecidas pela arte contemporânea para acolher ou habitar incertezas. A exposição se propõe a traçar pensamentos cosmológicos, inteligência ambiental e coletiva assim como ecologias naturais e sistêmicas.
Para que possamos enfrentar objetivamente grandes questões do nosso tempo, como o aquecimento global e seu impacto em nosso hábitat, a extinção de espécies e a perda de diversidade biológica e cultural, a instabilidade econômica ou política, a injustiça na distribuição dos recursos naturais da Terra, a migração global, entre outros, talvez seja preciso desvincular a incerteza do medo. A incerteza está claramente conectada a noções endêmicas no corpo e na terra, com uma qualidade viral em organismos e ecossistemas. Embora esteja atrelada à palavra crise, não é equivalente a ela. Incerteza é, sobretudo, uma condição psicológica ligada aos processos individuais ou coletivos de tomada de decisão, descrevendo o entendimento e o não entendimento de problemas concretos.
A noção de incerteza faz parte do repertório de muitas disciplinas – da matemática à astronomia, passando pela lingüística, biologia, sociologia, antropologia, história ou educação. Diferentemente do que acontece em outros campos, no entanto, a incerteza na arte aponta para a desordem, levando em conta a ambiguidade e a contradição. A arte se alimenta da incerteza, da chance, do improviso, da especulação e ao mesmo tempo tenta contar o incontável ou mensurar o imensurável. Ela dá espaço para o erro, para a dúvida e até para os fantasmas e receios mais profundos de cada um de nós, mas sem manipulá-los. Não seria o caso, então, de fazer com que os vários modos de pensar e de fazer da arte pudessem ser aplicados a outros campos da vida pública?
Aprender a viver com a incerteza pode nos ensinar soluções. Compreender diariamente o sentido da Incerteza Viva é manter-se consciente de que vivemos imersos em um ambiente por ela regido. Assim, podemos propor outras formas de ação em tempos de mudança contínua. Discutir incerteza demanda compreender a diversidade do conhe- cimento, uma vez que descrever o desconhecido significa interrogar tudo o que pressupomos como conhecido. Significa, ainda e também, valorizar códigos científicos e simbólicos como complementares em vez de excludentes. A arte promove a troca ativa entre pessoas, reconhecendo incertezas como sistemas generativos direcionadores e construtivos.